A morte prematura do universitário Humberto Moura
Fonseca, de 23 anos, expõe os riscos do consumo de álcool entre os jovens. O
laudo médico indicou que o estudante de Passos, no Sul de Minas, sofreu infarto
do miocárdio, no sábado, depois de participar de competição alcoólica em
ingeriu de 25 a 30 copos de 50 milímetros de vodca durante festa organizada por
repúblicas de estudantes em Bauru (SP). A combinação juventude e bebida é
preocupante e as estatísticas demonstram que, enquanto a dependência começa
cada vez mais cedo, a quantidade consumida aumenta. “A questão do álcool é
endêmica no Brasil. Associados a esse histórico cultural estão dependência
química, fatores individuais, sociais e o próprio efeito das substâncias. Há
uma tolerância ao consumo de álcool. É um ritual de iniciação. Muitas famílias
até servem bebida em festas de 15 anos para que os filhos possam aprender a
consumir em família”, afirma a diretora-superintendente da Terra da Sobriedade
Ana Luiza Viana. A associação desenvolve trabalho de prevenção e tratamento de
dependência química.
m pesquisa recente, o Centro de Referência Estadual em Álcool e Drogas
(Cread) informou que mais de dois terços dos 1.976 dependentes químicos, que
buscaram ajuda, experimentaram drogas entre 12 e 17 anos. O álcool foi a porta
de entrada para 37% . A entrada precoce no vício se confirma com os dados do
Ministério da Saúde. Mais da metade dos adolescentes experimenta bebida
alcoólica antes dos 16 anos. Os dados são da Pesquisa Nacional de Saúde do
Escolar , do Ministério da Saúde, que, em 2012, constatou que 66,6% dos
adolescentes - entre 13 e 15 anos - experimentaram bebida alcoólica alguma vez
na vida.
Coordenador médico do pronto-socorro do João XXIII, Marcelo Lopes
Ribeiro diz que, nos últimos cinco anos, cresceu o número de pacientes com
alcoolemia aguda. “Os dados, porém, não refletem plenamente a gravidade do
problema em todo o estado, já que recebemos ligações de colegas de várias
cidades pedindo orientação, que não são computadas. E há ainda os pacientes
acidentados, cuja causa é o consumo de álcool, que não está na estatística de
pacientes atendidos por consumo excessivo”, explicou Ribeiro
O maior percentual é entre as meninas, 68,3%. Entre os meninos é de
64,8%. O estudo mostra também que 21,8% dos entrevistados ficaram bêbados pelo
menos uma vez. Os dados alertam para a forma como esses jovens têm acesso ao
uso das bebidas, apesar da venda proibida a menores em todo o país. A pesquisa
mostra que um em cada cinco (21,9%) adolescentes consegue comprar álcool por
conta própria e que cerca de 12% conseguem a bebida no ambiente doméstico e na
companhia de parentes
Glamourização do consumo
Especialistas criticam a tolerância à bebida alcoólica no país. A
diretora-superintendente da Terra da Sobriedade Ana Luiza César Viana, dizk que
a propaganda glamouriza o consumo. “Os destilados já saíram da mídia. A luta é
para retirar outras bebidas, principalmente no horário em que as crianças
assistem à TV.” Ela ressalta que é extremamente proibido expor, oferecer e
servir bebidas para menores de 18 anos. “As bebidas teriam que ficar em locais
não expostos. O álcool mata muito mais que o crack”, defende.
No vídeo em que os jovens participam da competição alcoólica em Bauru, a
maior parte usa camisa amarela com a logomarca da Skol. Procurada pelo Estado
de Minas, a Ambev não informou se patrocinou o evento. Em nota, afirmou que
“lamenta o ocorrido e reforça que consumo responsável é um de seus principais
compromissos.” Disse ainda que “não interessa qualquer lucro proveniente do
consumo indevido de seus produtos.”
Para Marcelo Lopes, o crescimento do número de pessoas em coma alcoólico
é um reflexo do bombardeio de que os jovens são alvo da publicidade. “As
propagandas de bebida apresentam sempre pessoas alegres, se divertindo, muitas
vezes em festas. Muitos dos casos que atendemos são jovens que estavam em
eventos patrocinados por fabricantes de bebidas em sítios em cidades da Grande
BH. Nesses ambientes, não há qualquer controle e adolescentes abusam do
consumo, principalmente, se desafiados”, diz Marcelo. O médico alerta que por
ser o álcool uma droga lícita, em muitos núcleos familiares crianças assistem
seus pais bebendo e experimentam bem cedo.
Fonte:O Imparcial
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