A exploração política do cadáver de Eduardo Campos, por J. Carlos de Assis
A exploração política do cadáver de Eduardo Campos mobilizando no limite extremo a emoção da sociedade brasileira, intensificada que foi por dias seguidos na televisão e nos jornais da grande mídia, sem qualquer informação nova, caminha por esgotar-se em si mesma. Afinal, para a maioria, antes do desastre ele era um homem comum morto num acidente aéreo. No Nordeste, sobretudo em Pernambuco, como herdeiro de Arraes firmou-se como um importante líder regional. A passagem pelo Ministério de Ciência e Tecnologia no Governo Lula não deixou marca especial. As pesquisas de opinião lhe confinaram num modesto terceiro lugar nas intenções de voto.
A transformação do homem quase comum em mito reflete a obsessão da direita em derrotar Dilma. No último caso, garante-se um segundo turno. É por isso que o inexpressivo pastor Everaldo ganha espaço no Jornal Nacional. Seus 3% - talvez menos, depois do desastre de sua entrevista na terça-feira – pode ser a gota d'água que impeça a decisão no primeiro turno. Nesse caso, sendo Aécio ou Marina, o “sistema” tentará encurralar Dilma, seja para derrotá-la, seja para impor a ela compromissos inconfessáveis para se reeleger. Em qualquer hipótese fica a pergunta: qual será a relevância de Marina em todo o processo?
Do meu ponto de vista, pouca ou nenhuma. A pesquisa em tempo “emocional” feita pela Folha indicou que suas intenções de voto, em plena comoção pública agitada pela mídia, não significaram queda ou de Aécio, ou de Dilma. Marina aparece como destinatária de anteriores votos nulos e brancos, sobretudo dos primeiros. Isso é relevante sobretudo em São Paulo, onde uma parte da classe média niilista procura despejar suas frustrações de vida votando em cacarecos, gorilas e tiriricas. Nesse sentido, ela não é herdeira de uma bandeira de esperança, como a grande mídia quer fazer crer, mas de uma bandeira que usa a política para negar a política.
Quem é Marina? Eu suportei uma longa entrevista dela pela televisão e fiquei espantado com a desproporção entre suas afirmações e seu despreparo. Sua proposta de Governo, sinalizada na entrevista, era “juntar o melhor do PSDB com o melhor do PT”. Na questão crucial da política econômica, ela sustentou que não se poderia abrir mão jamais do tripé “metas de inflação (leia-se, juros altos), câmbio flutuante e superávit primário”. Não me deterei em outras barbaridades, em geral ditas de uma forma ingênua e benévola, que deixa o telespectador não informado levemente inclinado em seu favor. Entretanto, não se deve apostar em que todo mundo é idiota. Quando a emoção baixar definitivamente, o princípio de realidade política prevalecerá.
Marina, é, pois, a alternativa de um fração do PSB – nem todos estarão com ela – e dos niilistas. Creio que chega a um máximo de 20% no primeiro turno, juntando o ambientalismo com os votos nulos, e alguma coisa do PSB que não consigo visualizar bem. Quanto ao ambientalismo, é uma forma do voto ingênuo, das pessoas que genuinamente acreditam que precisamos de cuidar efetivamente do meio-ambiente mas não têm uma proposta concreta de como conciliar isso com a sobrevivência da própria civilização, que depende de crescimento econômico. Esses são uma força eleitoral em todo o mundo, minoritária, mas às vezes expressiva. Na Alemanha, impuseram o fechamento de mais de 20 usinas nucleares. O país está entre a escuridão e o dióxido de carbono. E quanto a nós, vamos, com Marina, fechar as usinas do Madeira antes que entrem em operação?
J. Carlos de Assis - Economista, doutor em Engenharia de Produção pela Coppe-UFRJ, professor de Economia Internacional na UEPB.
Fonte Jornal GGN
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