17 de jul. de 2014

Tolerância à lactose vem da domesticação de animais

Análises genéticas mostram que a capacidade de seres humanos adultos de digerirem o açúcar presente no leite surgiu na mesma época em que vacas, ovelhas e camelos começaram a ser criados, entre 5 mil e 12 mil anos atrás

Afresco do Antigo Egito mostra vacas domesticadas: à medida que o pastoralismo se espalhava pelo mundo, adaptações genéticas à lactose surgiam
Afresco do Antigo Egito mostra vacas domesticadas: à medida que o pastoralismo se espalhava pelo mundo, adaptações genéticas à lactose surgiamTomar um copo de leite sem passar mal é um luxo para a maioria das pessoas que, quando saem da infância, começam a se tornar sensíveis à bebida. Enquanto as crianças têm níveis altos da enzima lactase, o que as faz digerirem com facilidade o ingrediente, à medida que a idade avança, a quantidade dessa substância decai no organismo. Um terço da população mundial, contudo, é capaz de manter a mesma tolerância à lactose — o açúcar do leite — que tinha quando bebê. A variante genética que confere essa habilidade foi uma vantagem evolutiva que surgiu na África com o advento do pastoralismo, de acordo com um estudo publicado na edição desta semana da revista Journal of Human Genetics.

Os pesquisadores da Universidade da Pensilvânia rodaram o globo atrás de etnias tolerantes à bebida. Eles investigaram três regiões do genoma de 819 africanos pertencentes a 63 grupos distintos e de 154 não africanos de nove populações na Europa, do Oriente Médio e do leste asiático. Além disso, foram realizados testes de digestão da lactose em 513 indivíduos do leste da África. “A análise fornece fortes evidências de uma seleção positiva em diversas variantes genéticas associadas à tolerância à lactose em populações africanas. Provavelmente, isso ocorreu em resposta ao desenvolvimento cultural do pastoralismo”, explica Sarah Tishkoff, professora do Departamento de Genética da universidade e principal autora do estudo.

De acordo com ela, os locais distintos onde essas variantes foram encontradas estão relacionados, em muitos casos, com a história das migrações humanas. “À medida que os pastores se deslocavam geograficamente, comercializando gado, camelos e ovelhas, também houve misturas entre as etnias. Algumas populações acabaram herdando a tolerância à lactose graças a esse mix racial”, acrescenta. A especialista conta que esse é o primeiro estudo em larga escala sobre o tema. “Nossa pesquisa conta fatos tanto sobre a base genética e evolutiva de um traço biologicamente relevante dos humanos quanto traz informações sobre a origem do pastoralismo na África”, diz Alessia Ranciaro, geneticista da Universidade da Pensilvânia que também assina o artigo.

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